Quem na adolescência não sonhou em ter o armário da Cher, do filme “As patricinhas de Bervely Hills” (Clueless, 1995)? Se você “não é dessa época”, dá uma olhada nessa maravilha tecnológica:
Imagina ver todas as suas roupas numa tela e o computador escolher e dizer se combina? Essa era a vida da Cher, personagem da Alicia Silverstone, em seu auge, em 1995.
Esses dias eu estava procurando um app para organizar minhas roupas / guarda-roupas e tudo (o que eu usava não é mais atualizado e vive travando) daí lembrei dessa cena. E pensei no tanto que essa ideia, num filme de 1995, foi avançada para a tecnologia da época:
- um computador DENTRO do closet, provavelmente dedicado (nos dias de hoje seria uma tela na porta do guarda roupas: internet das coisas que chama né?)
- um sistema que diz se as roupas combinam (inteligência artificial)
- notem que a tela é touch screen!
- uma imagem gerada por escaneamento do corpo (tive isso pela primeira vez mês passado, pelo sistema da academia, ou seja, 25 anos depois da Cher!) com a roupa escolhida vestida!
Vai dizer que vc não queria um desse? hahaha

Mas o que isso tem a ver com Arquitetura da informação, afinal? Bom, muita coisa. Primeiro, trata-se de um sistema de informação, e todo sistema de informação tem sua arquitetura da informação (criada com uma finalidade definida e estruturada a partir de um projeto ou não, mas tem). Os registros principais desse sistema são as peças de roupa, e o computador não adivinha nem muito menos “decide” se elas combinam ou não: essa análise foi feita e inserida no sistema. Pode ter um certo grau de automação, com critérios que para que o computador escolha, como “cores que combinam”? Pode. Mas ainda assim, essa informação foi inserida no programa do computador e houve uma descrição de peça por peça de roupa para que o algoritmo analise e faça o match das roupas.
E descrever cada peça de roupa é catalogá-la, ou seja, identificar seus atributos – que também podemos chamar de metadados – em um registro de informação. Isso na parte de alimentação da base de dados do sistema. Temos ainda toda a parte da interface e suas interações, que são identificadas pelo chamado mapa do site ou seja, um mapeamento de todas informações do sistema e de onde está o quê. Notem que na parte inferior da tela da Cher, há várias categorias, com os tipos de roupas (sapatos, jóias, lingerie etc), o que chamamos de taxonomia e faz parte dos chamados sistemas de navegação.
Viu a AI aparecendo nas palavras destacadas acima?

AI em tudo?
Agora você pode estar pensando “ué, então tudo que a gente vê em uma tela tem AI?” Sim! E em muitas coisas ‘não telas’ também! (como um cardápio de restaurante). Nem sempre é uma boa AI, pois ela surge querendo o dono do sistema ou não. Então pode ser uma AI que foi criada conscientemente, de forma pensada, planejada, pesquisada, ou pode ser que simplesmente criaram o sistema e ‘vai colocando os conteúdos aí’ e no final tem lá, uns links pra coisas que você achou que estariam em outros lugares, informações soltas em lugares aleatório e coisas que ninguém acha. É uma péssima AI, mas ela está lá, tanto nas categorias que surgiram sem qualquer preocupação com hierarquias, por exemplo, tanto nos rótulos dos botões e menus que você tem que clicar e esperar pra ver o que acontece, pois não está claro.
Um projeto de um app, um site, uma tela da Alexa, um dashboard de carro, um totem de comprar ingresso de cinema, um display de lava louça, a tela do caixa eletrônico, o sistema que você usa na sua empresa ou qualquer local que mostre informações e espere que alguém interaja com elas, pode ser desenvolvido em conjunto com um projeto de arquitetura da informação, ou não.

Além do resultado final, a diferença de quando um sistema é desenvolvido com um projeto específico em conjunto, é que tudo fica documentado nos entregáveis da AI e UX/UI design. Os requisitos de informação, as decisões de categorização, os layouts, wireframes, mapas de site, ou seja, todas as “plantas”, como em um projeto de arquitetura predial, são preparadas e compõem a documentação do projeto. E ter essa documentação é extremamente importante para a manutenção do sistema de informação.
Eu arriscaria dizer que grande parte desses projetos não têm essa preocupação e muito menos conta com uma equipe qualificada de AI. Talvez esteja melhorando com o reconhecimento da necessidade de UX/UI design, também muito importantes, mas, ainda assim, são competências complementares e uma coisa não substitui a outra.
Entendeu por que tantas vezes você passa raiva e não encontra o que quer, não consegue finalizar uma tarefa ou gasta perde tanto tempo para conseguir uma informação? Enquanto a Cher, em 1995, já se beneficiava da arquitetura da informação!