Estou com esse post na minha cabeça há uns 3 meses e só agora parei para escrever. Resolução de ano novo: escrever mais posts aqui (todo ano isso…) 😅
Os aplicativos de mensagens instantâneas estão sendo cada vez mais usados e para cada vez mais finalidades. Grupos de Telegram e WhatsApp pra tudo: conversas com família, amigos, equipes de trabalho, grupos de apoiadores de pessoas e causas, grupos do pessoal do clube, do esporte, de cursos e de diversos interesses temáticos comuns, grupo consigo mesmo pra guardar informações como lista de compra de supermercado, código de barras de boletos a pagar, receita de bolo, links de sites para ver depois, fotos, arquivos, o nome daquele filme que sua amiga indicou, lembretes diversos… uso para trabalho e uso pessoal, tudo junto e misturado.
Nesse ritmo, acabamos deixando muitas informações importantes nessas mensagens instantâneas, fazendo com que os aplicativos sejam usados como repositórios. Ou seja, como um lugar para guardar informações pontuais, documentos e outros objetos digitais. O problema é que eles não foram criados com essa finalidade, e quando precisamos encontrar a informação novamente, quando tentamos achar uma mensagem, nem sempre conseguimos.
Eu lembro que, por volta de 2014, em uma discussão sobre estruturação da informação e suas complexidades em uma palestra de AI, um professor comentou algo mais ou menos assim:
Ah, agora é tudo no WhatsApp, que não tem estruturação nenhuma, é tudo texto livre! Talvez o futuro seja esse!
Só que não.
A menos que as informações trocadas nos apps de mensagem sejam totalmente efêmeras e descartáveis (o que vimos que nem sempre é o caso!), é importante termos meios pra encontrar essas informações. E para facilitar a busca, alguma estruturação é necessária.
O WhatsApp ainda tem poucos recursos nesse sentido, mas o Telegram já evoluiu bastante. Inclusive, a ideia de escrever esse post surgiu ao receber uma mensagem do próprio Telegram falando sobre um novo recurso: tópicos nos grupos.
Isso me lembrou da conversa de 2014 sobre “não precisar de estruturação no WhatsApp”. Se já não concordei naquela época, agora então… (os próprios apps já perceberam isso).
O Telegram explica que o recurso de tópicos para grupos foi criado para facilitar a leitura de chats em grupos com mais de 200 membros: com uso dos tópicos, é possível criar espaços separados para qualquer assunto. Ou seja, em grupos grandes e ativos, fica difícil acompanhar as conversas, pois são muitas mensagens por minuto. Assim, os tópicos ajudam a encontrar as mensagens sobre determinado tema de interesse e acompanhar o tópico desejado, funcionando como um filtro. O Telegram explica que:
Os tópicos funcionam como conversas separadas dentro do grupo, com suporte para suas próprias mídias compartilhadas e configurações de notificação específicas.
Ou seja, o objetivo do Telegram nem foi o que eu estava pensando – armazenar com alguma estrutura para facilitar que as mensagens sejam consultadas depois – mas para que os chats possam ser acompanhados, em tempo real mesmo!
Outra funcionalidade no Telegram que não temos no WhatsApp é o uso de palavras-chave com #. No Telegram, quando alguma palavra é incluída na mensagem com o #, é criado um link naquele termo (como ocorre no twitter, instagram etc), o que facilita a busca posterior.
Para terminar, 2 recursos de busca que achei interessantes no Telegram: busca no calendário e busca por remetente. Para que isso seja possível, as informações tem uma estrutura interna que guarda a data e o autor das mensagens, ou seja, esses metadados (data e autor) são armazenados junto com as mensagens. O conteúdo da mensagem não é todo estruturado, mas existe uma estrutura mínima que registra data e autor em todas as mensagens, permitindo com que esse tipo de busca possa existir. Com o recurso de palavras-chave, o usuário pode também indexar suas mensagens, se quiser, incluindo o #assunto da conversa.
É isso, Telegram, vamos facilitar a busca do usuário: esses foram exemplos da evolução de funcionalidades dos produtos digitais a partir das necessidades que surgem com os usos que as pessoas dão a eles.
No caso do Whatsapp, bem… talvez estejam tentando o caminho inverso: incluíram um recurso de mensagens temporárias, que são apagadas automaticamente após um período determinado (24h, uma semana, 90 dias, etc). Eles afirmam que o objetivo é oferecer mais privacidade e liberar espaço de armazenamento. Em termos de gestão da informação, também faz sentido: se não vamos estruturar a informação, ela ficará perdida no mar de dados e nunca mais vamos encontrá-la, então, para que guardar?
A questão é saber o que os usuários acham disso, pois parece que os novos usos dos apps de mensagem não apontam para esse lado. Ao menos o WhatsApp deixou a opção de manter o armazenamento das mensagens para sempre.
Então, respondendo à pergunta do título: sim, para além da AI que é obviamente necessária para a interface e outras estruturas dos apps, podemos ver que é necessária uma arquitetura que também estruture os conteúdos das mensagens em si, com os metadados dos textos das mensagens.
