Assisti ontem o documentário “O dilema das redes” (The social dilemma), na Netflix, e não poderia deixar de comentá-lo aqui. O filme traz entrevistas com vários ex-funcionários das grandes empresas do Vale do Silício, como Google, Twitter, Facebook e outras relatando como todo o desenvolvimento dos produtos digitais das big tech são criado com o intuito de moldar o comportamento do usuário, de forma a torná-lo viciado.
Intercalando com a parte “documentário” do filme, é encenada uma história fictícia (porém nem tanto) de uma família em que quase todos os membros são viciados em seus smartphones. Principalmente os dois filhos mais novos, na pré adolescência e adolescência, que vivem em função do que lhes é apresentado em tela. Essa parte funciona bem para ilustrar o que está sendo contado nas entrevistas, caso alguém não tenha entendido. Destaque para as cenas que trazem a personificação dos algoritmos, boa sacada para explicar pro público em geral o faz, de fato, um algoritmo de recomendação.

Pra mim a mensagem do filme não foi uma grande surpresa: somos manipulados o tempo todo, em nível individual e coletivo pelos aplicativos que usamos, por meio dos conteúdo que consumimos. Porém, eu trabalho com informação, pesquiso arquitetura da informação e os impactos da tecnologia nas nossas vidas, então já tinha contato com esse “lado negro” das redes.
A maior surpresa pra mim foi saber que há pessoas que vieram dessa indústria realmente preocupadas (será mesmo?) com tudo isso. Em especial, o “protagonista” das entrevistas, Tristan Harris, que foi designer da Google para questões éticas, e conseguir me convencer de que é uma boa pessoa. hahaha. Harris é um dos fundadores do Center for Humane Technology (CHT), uma instituição preocupada em “realinhar a tecnologias aos melhores interesses humanos”, ou seja, desenvolver tecnologias de informação e comunicação que não coloquem em a risco a saúde mental das pessoas, as sociedades, as democracias…
Ativismo
Gostei das iniciativas destacadas no filme, em especial o CHT: já me inscrevi para um curso que estão desenvolvendo e estou explorando o site deles todinho. Sim, eu adoro uma causa. E acho que essa me pegou: a questão ética quanto à informação na internet já tinha me atraindo há algum tempo, desde que li o Morozov e adicionei um “slide padrão reflexão final” com citação do autor em em todas as minhas apresentações… mas isso é assunto pra mil pesquisas.

Confesso que senti uma pontinha de esperança no futuro… quem sabe conseguimos sair desse rabbit hole que nos metemos nos últimos anos?